“O que me preocupa não é o grito dos maus, mas o silêncio dos bons”, a frase de Martin Luther King define os desafios do Brasil, na visão de Nicola Calicchio, ex-CEO da consultoria McKinsey e hoje um dos mais respeitados conselheiros do país. Ele abriu, na noite desta quinta-feira, o Brasa Legacy, evento de arrecadação de fundos que marcou o aniversário de 10 anos da rede de estudantes brasileiros no exterior (a Brazilian Student Association).
Um grupo de 250 pessoas, entre alunos, empresários e filhos de empresários participou do jantar no hotel Rosewood, em São Paulo. O objetivo era arrecadar doações para que mais e mais brasileiros possam estudar nas principais universalidades do mundo e, assim, ajudar a subir a barra da qualidade da liderança no país. E também conscientizar a geração atual e as próximas sobre a importância de uma educação transformadora.
Calicchio relembrou que, nos últimos 60 anos, a produtividade do trabalhador brasileiro cresceu apenas duas vezes, enquanto na Coreia do Sul o aumento foi de sete vezes e, na China, de 21 vezes.
“O que faltou nos últimos 60 anos? A resposta número 1 que escuto é que faltou educação. Desde 2003, o Brasil mais que dobrou o investimento em valores constantes. Não falta dinheiro. O que falta?”, questionou, para depois responder. “O que faltou se resume em uma palavra: liderança”.
O Brasil, segundo ele, precisa do tipo de liderança definida pelo americano Henry Kissinger. “Ele dizia que a liderança é necessária para fazer as pessoas saírem de onde elas estão para onde jamais estiveram”, disse. “Pensem no impacto que uma única pessoa pode ter no futuro do mundo. Contribuam para a Brasa, os nossos netos vão agradecer”.
A Brasa surgiu há 10 anos para conectar estudantes dispersos no exterior e ampliar as possibilidades de seu retorno ao Brasil. Atualmente reúne mais de 10 mil alunos em 100 universidades. Acompanha desde o pré-universitário, com mentorias e auxílio financeiro para 500 applications. Cerca de 80% vêm de escolas públicas ou são bolsistas, com renda família menor que 3 salários mínimos. O programa de bolsas, que começou em 2019, já investiu R$ 3 milhões em 52 alunos.
Outros R$ 3 milhões foram arrecadados no jantar desta quinta-feira.
“Um dos grandes objetivos da Brasa desde sua criação é semear o espírito de nacionalidade”, disse Sofia Esteves, conselheira da organização, numa conversa com Roberto Sallouti, CEO do BTG Pactual (do mesmo grupo que controla a EXAME).
“A Brasa inspirou muitos jovens a voltar ao Brasil com os valores certos para transformar o Brasil num país melhor. Em apenas dez anos é incrível a quantidade de empresas criadas pelos alunos”, disse Sallouti. “Ainda estou esperando alguém entrar na política. Esse é um próximo desafio.”
Muitos dos jovens que voltaram ao Brasil para empreender, ocupar cargos executivos ou fazer estágios de férias estavam na plateia. Alguns deles subiram ao palco. Entre eles, Sofia Oliveira, que estuda ciências políticas em Harvard. Seu pai é segurança noturno; sua mãe, acompanhante de crianças com necessidade de cuidados especiais. Ela recebeu bolsas e conseguiu concluir o ensino médio ao lado do pai, que voltou a estudar. Seu sonho é voltar ao Brasil para trabalhar com empreendedorismo social.
Ela dividiu o palco com Letícia Vieira, que estuda engenharia e astronomia no Smith College, em Massachusetts. É filha de pais agricultores na região do Cariri, no Ceará. Seu pai é analfabeto, a mãe fez o ensino fundamental. “Realizei o sonho deles”, disse. Seu foco está no desenvolvimento de tecnologia de satélites para o monitoramento ambiental. “Meu sonho é criar uma agência aero espacial latino-americana”, disse ela. É a materialização de sair de onde você está para onde jamais esteve.
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