As queimadas em propriedades rurais de São Paulo seguem afetando a produção brasileira de cana-de-açúcar.
Entre 23 de agosto e 10 de setembro, foram identificados mais de 3 mil focos de incêndios, que resultaram em 181 mil hectares queimados em áreas de cana-de-açúcar e áreas de rebrota de cana no estado de SP. Os dados foram divulgados nesta sexta-feira, 13, pela Organização de Associações de Produtores de Cana do Brasil (Orplana).
A entidade, que conta atualmente com 35 associações de fornecedores de cana e representa mais de 12 mil produtores, calcula que o prejuízo aos produtores aumentou 20%, para R$ 1,2 bilhão devido aos efeitos dos incêndios na cana em pé, nas soqueiras e na qualidade da matéria-prima, assim como no manejo e custos de replantio.
“A base de dados utilizada pela Orplana é a de um conjunto de satélites que fazem a verificação das áreas, inclusive com monitoramento de queimadas […] É possível ver a diferença das áreas onde tinha cana e onde não tem e também o que aconteceu com a cana, se queimou, se mudou a coloração ou se manteve sem alteração, além da verificação a campo”, disse o CEO da organização, José Guilherme Nogueira.
No último levantamento da Secretaria de Agricultura e Abastecimento de São Paulo, de 29 de agosto, 8.049 propriedades em 317 municípios paulistas de 39 Regionais da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI) tinham sido atingidas. Procurada, a pasta disse que os dados ainda não foram atualizados e que “a equipe está mobilizada em monitorar os focos atuais de incêndios”.
Segundo a Orplana, o custo de renovação de canavial é estimado em aproximadamente R$ 13,5 mil por hectare. Mesmo nas áreas de rebrota que ainda se mantêm viáveis e não necessitam de replantio, pode haver a necessidade de manejo e nutrientes, o que também impactará os custos.
“Isso ocorre porque o colchão de palha anteriormente presente auxiliava na proteção contra plantas daninhas, na retenção de água e na matéria orgânica do solo. Além disso, as rebrotas de cana com 3 e 4 meses se transformaram em pó, resultando em um acúmulo de cinzas que também exigirá manejo na área”, ressaltou a entidade em nota.
Preços do açúcar sobem com queimadas
Os preços do açúcar cristal branco no mercado spot de São Paulo têm registrado altas significativas nas últimas semanas em virtude da estiagem e dos incêndios nos canaviais do estado, informou o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Esalq/USP. O mercado spot é onde se compram e vendem produtos para entrega imediata ou rápida.
De acordo com os pesquisadores, há um aumento na demanda por açúcar cristal, mas isso não indica um aquecimento do mercado. Em vez disso, parece que os compradores estão tentando garantir seus estoques devido ao receio de novos aumentos de preços no curto prazo.
“Um mix de açúcar abaixo do esperado no Centro-Sul e uma moagem menor do que a prevista podem pressionar os preços para cima. Recentemente, houve um aumento na atividade de precificação pelos produtores, o que exerce pressão sobre os preços de venda”, disse à Exame Ana Zancaner, analista do CZ app, especializada no mercado de açúcar e etanol.
Para a safra 2024/2025, a previsão de moagem da cana está estimada em 596 milhões de toneladas e a produção de açúcar deve ser de 39,2 milhões de toneladas, com um mix estimado de 49,5%.
Inicialmente, esperava-se um mix de 52,5% devido à capacidade de cristalização instalada, mas a qualidade da cana foi abaixo do esperado. Por causa das queimadas que afetaram as plantações de São Paulo, houve uma redução de 6 milhões de toneladas na moagem e 400 mil toneladas na produção de açúcar. Com essas revisões, a previsão atual é de 39,2 milhões de toneladas para o ciclo 2024/2025.
Mesmo com o aumento, Zancaner avalia que a alta nos preços do açúcar deve ser limitada no cenário doméstico, por causa dos estoques de açúcar bruto. “Os estoques elevados podem amortecer possíveis variações de preços. Assim, o efeito mais notável deve ocorrer no mercado internacional”.
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