A abundância de conteúdo true crime em podcasts e obras audiovisuais tem alimentado cada vez mais a obsessão dos “detetives de sofá” que consomem o gênero. Alguns desses projetos, no entanto, levaram a desenvolvimentos legais reais.
O exemplo mais recente envolve o caso de grande repercussão dos irmãos Erik e Lyle Menendez, que foram condenados e sentenciados à prisão perpétua pelo assassinato de seus pais, Jose e Kitty Menendez, em 1989, dentro da mansão da família em Beverly Hills.
Na quinta-feira (3), promotores em Los Angeles anunciaram que estão revisando novas evidências apresentadas neste caso antes de uma nova audiência no mês que vem, incluindo uma carta escrita por Erik Menendez, agora com 53 anos, que seus advogados argumentam que corrobora as alegações de que os irmãos sofreram anos de abuso sexual por parte de seu pai.
Leia mais
Jeremy Strong fala sobre críticas por papel LGBT: “Trabalho como ator”
O que o ex-Menudo que mora no Brasil tem a ver com o caso dos irmãos Menendez?
Mãe de Sean “Diddy” Combs sai em defesa do filho: “Não é um monstro”
Em sua petição para rever o caso arquivado no ano passado, os advogados dos irmãos também citaram a série documental do serviço de streaming Peacock “Menendez + Menudo: Boys Betrayed”. O projeto incluiu uma entrevista com um ex-membro da boy band Menudo, que disse em um depoimento juramentado que foi estuprado por Jose Menendez, pai dos dois irmãos, quando tinha cerca de 14 anos.
O interesse público no caso Menendez foi reavivado recentemente pela dramatização dos assassinatos na série de Ryan Murphy na Netflix: “Monstros: Irmãos Menendez: Assassinos dos Pais”. Embora os Menendez tenham criticado a série roteirizada como imprecisa, a produção chamou a atenção para o caso, levando a esforços legais de Kim Kardashian e outras celebridades pedindo justiça pelos irmãos.
“Muitas pessoas estão interessadas no caso agora e isso mostra o poder da televisão e o que ela pode fazer. Ela pode lançar um holofote sobre algo e pode iluminar cantos escuros”, Murphy disse à Variety esta semana. “Demos a eles seu momento no tribunal da opinião pública.”
Não é a primeira vez que projetos de cultura pop motivam desenvolvimentos legais. Confira outros exemplos:
R. Kelly e “Sobreviver a R. Kelly”
Cantor de R&B R. Kelly • Michael Tercha/Chicago Tribune/Tribune News Service via Getty Images
O aclamado cantor foi absolvido em 2008 de acusações relacionadas à pornografia infantil depois que uma fita que, segundo promotores, o mostrava fazendo sexo com uma garota de 14 anos foi revelada. Isso não impediu novos boatos e alegações de má conduta sexual de R. Kelly.
Algumas dessas histórias vieram à tona em janeiro de 2019 em “Sobreviver a R. Kelly” – disponível na Netflix –, uma série documental bombástica na qual várias mulheres compartilharam alegações de abuso nas mãos de Kelly, o que ele negou.
Poucos meses depois, em julho de 2019, o Gabinete do Procurador dos EUA para o Distrito Norte de Illinois divulgou 13 acusações que incluíam pornografia infantil e obstrução de justiça. Kelly também foi acusado de tráfico sexual em Nova York e tentativa de influenciar um caso em Atlanta em cinco acusações do Gabinete do Procurador dos EUA para o Distrito Leste de Nova York. Em agosto de 2019, Kelly foi acusado de prostituição com uma pessoa menor de 18 anos em Minnesota em conexão com um suposto incidente ocorrido em julho de 2001 em um evento promocional.
Kelly declarou-se inocente de todas as acusações.
A reação a “Sobreviver a R. Kelly” foi enorme e uma segunda temporada com alegações adicionais foi ao ar em janeiro de 2020.
Kelly foi condenado por acusações federais de extorsão e tráfico sexual em 2021 e sentenciado a 30 anos de prisão. O cantor de R&B também foi considerado culpado de acusações de pornografia infantil e aliciamento de menor. Ele recebeu uma sentença separada de 20 anos de prisão.
Steve Avery, Brendan Dassey e “Making a Murderer”
Cena de “Making a Murderer”, da Netflix • Netflix
O desaparecimento e a descoberta da morte da fotógrafa Teresa Halbach, de 25 anos, em outubro de 2005, provavelmente teria permanecido uma história local em Wisconsin se não fosse pela Netflix.
A série documental de 2015 da gigante do streaming, “Making a Murderer”, contou a história de Steven Avery e seu sobrinho Brendan Dassey, que foram presos e condenados pelo assassinato de Halbach.
A série de 10 episódios foi tão popular que levou à criação de vários fóruns online, onde os espectadores discutiam o crime e trocavam suas próprias teorias e interpretações das evidências.
Uma segunda temporada, intitulada “Making a Murderer: Parte 2”, foi lançada em 2018.
Tanto Avery quanto Dassey foram condenados à prisão perpétua, mas a condenação de Dassey foi anulada em 2016.
Os promotores apelaram e um tribunal federal de apelações posteriormente restabeleceu a condenação. Avery entrou com vários recursos e moções, sem sucesso, ao longo dos anos. Ambos os homens continuam presos.
Robert Durst e “The Jinx: A Vida e Mortes de Robert Durst”
Robert Durst na série documental “The Jinx” • Cortesia da HBO
“The Jinx: A Vida e Mortes de Robert Durst” é uma série de true crime que virou notícia.
Durst, um excêntrico herdeiro imobiliário de Nova York, foi preso pouco antes da HBO exibir o final do programa em março de 2015.
A série investigou três casos aos quais Durst estava ligado: o desaparecimento não resolvido de sua esposa, Kathie, em 1982; o assassinato em 2000 de sua amiga, a escritora Susan Berman, e a morte e esquartejamento no ano seguinte de seu vizinho, Morris Black, em Galveston, Texas.
Durst alegou legítima defesa na morte de Black e foi preso pelo assassinato de Berman enquanto a primeira temporada da série estava no ar.
Ele foi condenado por homicídio de primeiro grau pelo assassinato de Berman em 2021 e sentenciado à prisão perpétua sem liberdade condicional.
Durst também foi indiciado pela morte de sua falecida esposa, mas ele morreu em janeiro de 2022. Em abril de 2024, a HBO exibiu uma segunda temporada de “The Jinx”.
Adnan Syed e “Serial”
O podcast “Serial” não só ajudou a impulsionar o interesse na então nova forma de mídia, como também levou à liberdade de um homem condenado pelo assassinato de sua namorada do colégio.
O podcast de 2014, apresentado pela jornalista Sarah Koenig, analisou a condenação de Adnan Syed pelo assassinato de Hae Min Lee em 1999, quando ambos eram veteranos na Woodlawn High School, no Condado de Baltimore.
A primeira temporada estabeleceu recordes para podcasts na época de seu lançamento, com mais de 300 milhões de downloads, de acordo com os produtores do programa. Syed estava cumprindo pena perpétua por assassinato em primeiro grau, roubo, sequestro e cárcere privado.
A atenção ao caso, que incluiu perguntas sobre a defesa que Syed recebeu, levou à anulação de sua condenação em setembro de 2022.
Sua libertação foi comemorada por apoiadores, mas em agosto de 2022 a Suprema Corte de Maryland decidiu que a condenação deveria ser restabelecida devido a erros processuais na anulação da condenação. Syed permanece em liberdade enquanto o caso está sob apelação.
Além de “Monstros”, outras produções true crime de Ryan Murphy
Este conteúdo foi originalmente publicado em Irmãos Menendez: veja obras de true crime que tiveram consequências na vida real no site CNN Brasil.
Deixe um comentário