Ícone dos gêneros house music e brazilian bass, Alok é considerado uma das “aves raras” do cenário artístico. Não apenas pelos ritmos contagiantes de seus shows, mas principalmente pelo comprometimento com as causas sociais. Após protagonizar campanhas de solidariedade durante as enchentes no Rio Grande do Sul, o artista se prepara para uma nova ação que une a música com iniciativas de impacto — desta vez na gringa.
Neste sábado, 28, Alok realizará uma apresentação especial no festival Global Citizen, no Central Park, em Nova York, com o movimento “O Futuro É Ancestral”. O DJ vai dividir o palco com os artistas indígenas Mapu Huni Kuin, Owerá, o grupo Brô MC’s e a ativista e deputada federal Célia Xakriabá. A performance pretende mostrar o importante papel da indústria do entretenimento no enfrentamento da crise climática.
“O Futuro É Ancestral” é uma ação do Instituto Alok em parceria com a Unesco. O projeto busca amplificar as vozes indígenas e promover uma conexão sustentável com a natureza. Com ritmos e danças, o show pretende espalhar uma mensagem para o mundo sobre a necessidade urgente de defesa dos direitos dos povos indígenas e sua presença em múltiplos espaços da sociedade contemporânea.
A performance integra o bloco “Defend The Planet”, que também contará com a presença de estrelas como o cantor Chris Martin, da banda Coldplay, e os atores Hugh Jackman e Whoopi Goldberg. O líder indígena brasileiro Raoni Metuktire também é um dos convidados do evento.
Em entrevista exclusiva à EXAME, Alok explicou que o projeto vai muito além da arte, pois seu objetivo é despertar a conscientização no público sobre os desafios globais. “Não é apenas um projeto artístico, mas um movimento que tem a música como meio. E se desdobra em diversas áreas sociais, econômicas e culturais”.
Uma viagem pelas origens do Brasil
Para entender a criação de “O Futuro É Ancestral”, é preciso voltar no tempo, para o ano de 2015, quando o DJ e produtor musical, ainda em ascensão no mundo da música, buscava se conectar com a sabedoria e as crenças dos povos originários para encontrar novos sentidos à vida.
“Há quase dez anos, em 2015, eu fui à aldeia Mutum, no Acre, em um percurso de mais de 30 horas de viagem. Era um período difícil da minha vida, que estava em busca de respostas para questões que faziam pouco sentido na minha cabeça. Fui para lá com uma intenção e sai completamente diferente”, contou. “O que era uma busca pessoal se tornou um objetivo de vida, um ideal artístico. Mas não apenas meu, e sim coletivo, de muitas pessoas que têm somado nessa trajetória”.
Por causa dessa experiência, Alok decidiu levar seus conhecimentos sobre os povos indígenas para a música, como uma forma de compartilhá-los com o mundo. “Desde que tive contato com a cultura dos povos originários, entendi a importância de também desconstruirmos conceitos e crenças que temos a respeito deles”.
Em 2024, foi lançado o álbum “O Futuro É Ancestral”, fruto de mais de 500 horas de trabalho em estúdio, envolvendo a colaboração entre o DJ e produtor e mais de 50 músicos indígenas. O pré-lançamento ocorreu em Los Angeles, em março.
“A música serve de plataforma para semear a sabedoria repassada de geração em geração e que se faz necessária nos dias de hoje. Os povos indígenas são os guardiões das florestas. Não se trata apenas de Brasil, mas de um patrimônio da humanidade. A sabedoria milenar que eles carregam é para preservar o planeta”, destacou.
Show memorável
Essa edição marca a segunda participação de “O Futuro É Ancestral” no Global Citizen. Em 2021, a equipe realizou um espetáculo em uma balsa ancorada no rio Amazonas, transmitido simultaneamente para mais de 100 países. Agora, a iniciativa se move do cenário florestal para o urbano, ocupando o coração de uma das mais influentes capitais do mundo.
Entusiasmado com a performance desta noite, Alok acredita que o show será marcante e, provavelmente, mais impactante que o anterior, por conectar os elementos das tradições indígenas com a atmosfera de Manhattan.
“Em 2021, foi essencial mostrar os indígenas na floresta e fazer essa reconexão com a natureza. Apresentar ao mundo a musicalidade deles diretamente da Amazônia em meio às árvores, aos cantos dos animais, ao habitat em sua forma pura. Ali, mostramos o que a floresta tinha a nos dizer por meio dos cantos ancestrais”.
E comparou: “Em Nova York, queremos dar espaço aos corpos e vozes indígenas em todos os lugares, integrá-los à metrópole. O Central Park é o símbolo dessa absorção de conhecimentos, da sabedoria ancestral. É um convite a todos para ouvirmos os ensinamos dos indígenas”.
Por mais indígenas na indústria
De acordo com o cantor, o espetáculo vai mostrar o quanto a nova geração de indígenas está conectada com as estéticas contemporâneas da música. Um encontro dos cantos originais indígenas com as batidas do pop, rap e música eletrônica.
Os artistas e convidados transmitirão suas mensagens em favor dos direitos dos indígenas de diferentes maneiras. Célia Xakriabá vai levar aos nova-iorquinos suas poesias em forma de manifesto. Mapu Huni Kuin e Owerá prometem cantos da floresta, que expressam a força dos povos originários e a defesa das matas. Já a banda Brô MC’s chamará o canto de batalha, para que o público conheça a luta pela retomada das terras.
Entre esses artistas, Alok terá outra posição: “Estarei no palco como uma plataforma que se soma a essas vozes, que usa das técnicas da música eletrônica e pop para criar um trabalho que é atemporal e que foge da lógica mercadológica. Não gravamos para criar hits, gravamos para eternizar e conscientizar”.
A sinergia entre a música indígena e novas expressões sonoras se tornou parte importante do trabalho de Alok. Recentemente, a faixa “Pedju Kunumigwe”, criada em colaboração com os artistas Guarani Nhandeva, foi indicada ao Grammy Latino 2024, evidenciando como essa junção pode ser bem-sucedida.
Diante deste cenário, o produtor musical acredita que o movimento “O Futuro É Ancestral” pode mostrar a potência dos artistas indígenas e estimular sua inclusão e protagonismo na indústria da música.
“Um dos objetivos dessa iniciativa é levar as canções indígenas para os palcos globais e ter reconhecimento da indústria fonográfica. Queremos deixar claro que esses povos têm um papel fundamental nos mais diversos campos: seja da cultura, do entretenimento, social ou econômico”.
Como assistir ao show de Alok no Global Citizen online?
O espetáculo será realizado neste sábado, 28 de setembro, às 20h (horário de Brasília). Os fãs do DJ podem acompanhar a apresentação ao vivo pelos canais oficiais do Global Citizen no YouTube, Amazon Music, Twitch, Apple Music, Facebook, TikTok, além das plataformas de streaming da ABC News no Disney+ e Hulu.
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