No último milhão de anos, a população humana cresceu 10 mil vezes, enquanto o consumo de energia cresceu 1 milhão de vezes. A história econômica das nações desenvolvidas foi marcada pelo crescimento do uso de diversas formas de energia, o que torna difícil imaginar um cenário diferente para os demais países.
Além da dimensão produtiva, o acesso à energia é essencial para serviços de saúde, educação, segurança e entretenimento, além de iluminação, conservação de alimentos, cocção e conforto térmico. Daí a forte correlação entre consumo de energia e PIB per capita, indicando que desigualdade econômica também se traduz em desigualdade energética.
A desigualdade no acesso à energia está correlacionada a várias formas de privação, afetando significativamente a população dos países com menor renda. Na África Subsaariana, por exemplo, o índice de universalização do serviço de eletricidade médio é da ordem de 50%, e alguns dos países têm mais de 80% da população sem luz, como ilustrado pela figura a seguir.
Vemos, portanto, que o desenvolvimento econômico está ligado ao aumento do consumo de energia; e que, para que países de menor renda alcancem um nível de desenvolvimento comparável ao dos países mais industrializados, será necessário expandir o acesso e o uso de eletricidade.
Contudo, existem limites ecológicos evidentes para o crescimento atrelado à demanda por energia, sobretudo porque as matrizes energéticas de boa parte dos países em desenvolvimento é “suja”. Assim, as mudanças climáticas representam um desafio crescente e inegável.
Embora continuem em uma trajetória ascendente, os países de menor renda são responsáveis por fluxos de emissões per capita de gases de efeito estufa significativamente menores em comparação com os países desenvolvidos, responsáveis por um estoque desproporcional das emissões das últimas décadas. Ainda que alguns países, como o Brasil, se destaquem por gerar energia elétrica com fontes renováveis, esta opção pode ser mais desafiadora para várias nações em desenvolvimento.
Em países como Índia, Indonésia e México, os efeitos de escala do crescimento ainda predominam, indicando que devem aumentar as emissões durante seu desenvolvimento. Essa dinâmica ocorre especialmente para os países ricos em carvão, petróleo e gás, e onde mais essas forem as fontes mais competitivas economicamente.
Para viabilizar uma transição energética coincidente com o desenvolvimento, serão necessárias políticas abrangentes, que traduzam compromissos internacionais em ações concretas. Medidas como um mercado global de carbono, sistemas de comércio de emissões e incentivos para energias renováveis podem ajudar neste processo.
No entanto, será crucial evitar que tais políticas sejam custeadas unicamente pelos países em desenvolvimento, onerando sua população ou sua economia. Será preciso buscar soluções dentro do princípio das responsabilidades comuns, porém diferenciadas.
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