A indicação de que a Apple equiparia o novo iPhone 16 com inteligência artificial (IA), feita há três meses, gerou grande expectativa de que a companhia apresentaria algo significativamente novo depois de anos de pouca mudança em seu principal dispositivo. Toda aquela empolgação, no entanto, deu espaço à frustração na tarde desta segunda-feira, 9, quando a empresa apresentou o novo dispositivo em evento realizado em sua sede em Cupertino, na Califórnia.
As reações negativas no mercado começaram minutos antes de o CEO Tim Cook revelar ao mundo as novidades do novo iPhone e se aprofundaram durante seu discurso. Em pouco mais de 30 minutos, as ações da Apple caíram de US$ 220,72 para US$ 216,72, corroendo US$ 60 bilhões em valor de mercado.
iPhone 16 Pro: com recursos avançados, mira ser o smartphone definitivo dos criadores de conteúdo
O lançamento do novo iPhone está previsto para outubro, já com a versão em inglês do Apple Intelligence. As versões em outros idiomas não deverão ser lançadas até o fim do ano, segundo a Apple.
A principal tecnologia do novo iPhone, portanto, estará indisponível no idioma nativo de parte considerável dos consumidores da Apple. Hoje, por exemplo, somente a Ásia corresponde a 30% das vendas da empresa.
“Estamos trabalhando para expandir a Apple Intelligence para mais idiomas, como chinês, francês, japonês e espanhol, e lançaremos essas versões no próximo ano”, disse a Apple. A companhia, no entanto, não detalhou em quais outros idiomas está trabalhando, como o português.
Inteligência artificial, pero no mucho
Em 2011, pouco antes de Steve Jobs morrer, a Apple realizava o mesmíssimo evento de hoje, contudo, para lançar o iPhone 5. O principal atrativo do dispositivo era o Siri, novo recurso de software que impulsionou as vendas do aparelho.
Nesta segunda-feira, a intenção era de trazer uma atualização com o mesmo nível de capacidade na hora de impulsionar as vendas. A IA era o mote necessário para a empresa justificar aos consumidores o upgrade de aparelho.
O sistema, batizado de Apple Intelligence, tem uma série de capacidades interessantes, entre elas: a edição de imagens em tempo real e a navegação por diferentes tipos de conteúdos criados pelo usuário no smartphone. Seria como uma Siri que consegue ajudar com tudo que o usuário possui no dispositivo.
Apesar de serem inovações tímidas, e muitas delas possíveis ao se cruzar diferentes serviços com o ChatGPT e Perplexity AI, o momento é crucial para a popularização da IA generativa. Com a Apple entrando tardiamente nesse mercado, a empresa pode transformar a tecnologia em algo comum para o consumidor, ou aumentar as dúvidas sobre sua viabilidade caso os novos iPhones escantearem tais funções ao logo das próximas atualizações. Apesar do entusiasmo inicial com a IA, há incertezas sobre sua utilidade, especialmente após problemas enfrentados por empresas como Microsoft e a startup Humane.
A aposta da Apple para rejuvenescer o iPhone
O declínio na frequência de troca de iPhones é uma preocupação crescente para a Apple. De acordo com a TD Securities, o tempo médio de substituição de um iPhone aumentou para quase cinco anos, comparado a três anos em 2018. Para tentar reverter essa tendência, a empresa cancelou seu projeto de carro autônomo, avaliado em US$ 10 bilhões, e redirecionou centenas de engenheiros para trabalhar com IA. Analistas acreditam que essas inovações podem elevar as vendas para 240 milhões de unidades no próximo ano, um aumento de 12% em relação a 2023.
Entretanto, previsões otimistas já deram errado para outras empresas de tecnologia. Google, Microsoft e Nvidia, por exemplo, enfrentaram quedas nas vendas de produtos com IA, o que impactou o mercado financeiro como um todo.
A Apple, no entanto, tenta se diferenciar ao garantir maior privacidade no uso de sua IA. A maior parte das solicitações ao Siri será processada diretamente no iPhone, reduzindo os riscos de exposição de informações pessoais. Questões mais gerais, como receitas de culinária, serão tratadas em parceria com o ChatGPT, da OpenAI.
Resta saber como a Apple lidará com a regulamentação de dados em mercados internacionais, como a China, que exige armazenamento local de dados dos cidadãos. A Apple já teve de ceder a propriedade legal de dados do iCloud no país para uma empresa estatal, e ainda não está claro como irá gerenciar as informações geradas pela IA.
Deixe um comentário