A vice-presidente Kamala Harris acertou em uma coisa importante em que o presidente Joe Biden errou ao debater contra o ex-presidente Donald Trump: manter a postura enquanto o rival falava. Em tempos que debates servem para gerar cortes para redes sociais, isso faz toda a diferença.
Em junho, Biden participou de um debate contra Trump que afundou sua campanha. Enquanto o republicano falava, o democrata fazia cara de perdido ou assustado, como se não notasse que estava no ar e que os espectadores estavam vendo suas reações ao vivo. Em seguida, ele passou a sofrer pressão para desistir da disputa, e acabou saindo semanas depois, dando o lugar na disputa para sua vice.
Já no debate desta terça, 10, Kamala parecia ter isso em mente o tempo todo. Enquanto Trump falava, a democrata fazia expressões variadas. Deu risada, demonstrou ironia, revolta e sarcasmo, em reações rápidas. Em alguns momentos, ela parecia se divertir, o que reforçava um dos lemas de campanha. Os democratas se colocam como “guerreiros felizes” e tentam pintar os republicanos como sérios e desanimados.
Do outro lado, Trump fazia cara fechada e mostrava desconforto ao ser pressionado sobre temas em que ele adota uma postura mais difusa, como o direito ao aborto. Kamala respondeu de forma clara que defendia o acesso ao procedimento, enquanto o rival disse que pretende deixar a questão aos estados. Em outro momento, o republicano não respondeu se torce por uma vitória da Ucrânia, disse apenas esperar que a guerra acabe.
Mais do que Kamala, os moderadores da ABC News buscaram pressionar Trump a dar respostas mais precisas e ainda disseram que frases deles eram mentira, em uma checagem de fatos em tempo real.
Em um dos momentos que devem viralizar, o republicano disse que imigrantes estavam comendo gatos e cachorros em Springfield, Ohio. Em seguida, o apresentador David Muir disse que isso não era verdade, segundo o governo da cidade. Trump insistiu que “viu relatos na TV”, mas pareceu surpreso com o questionamento rápido ao que dizia.
Trump cresceu na reta final
No entanto, ao longo do programa, de mais de uma hora e meia, Trump foi saindo da defensiva e ampliando os ataques contra Kamala. Ele tentou vinculá-la de várias formas ao governo Biden, e Kamala foi rebatendo as acusações. “Claramente eu não sou Biden”, disse a democrata. Mesmo assim, Trump insistiu no tema, literalmente até o fim. Em suas considerações finais, voltou a provocar: “Ela podia sair agora, ir para a linda Casa Branca, ao Congresso, e fazer as coisas que quer, mas não fez e não vai fazer”, disse.
No segundo bloco, Trump pareceu mais à vontade, mesmo após ser questionado sobre sua participação no 6 de janeiro e se reconheceu a derrota na eleição de 2020. Em um comício recente, ele disse ter perdido por margem estreita. Perguntado sobre isso, disse que estava sendo irônico e manteve a argumentação mesmo sendo questionado de novo pelos apresentadores.
Dali em diante, o republicano foi falando de modo mais firme e seguro, com mais ataques à Kamala. O clima esquentou na reta final, com os dois candidatos tentando, e conseguindo, falar além do tempo e cortando os moderadores, que já não faziam tanto esforço para impor a ordem.
Ao final, a sensação era de que poucas propostas ficaram claras. Mas como em debates a imagem vale mais que o conteúdo, tanto Kamala quanto Trump terão momentos para destacar junto a seus eleitores. A dúvida é se esses cortes poderão atrair votos de eleitores indecisos, o público crucial nesta eleição.
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