Depois de perder o bonde da computação em nuvem na última década, a Oracle correu atrás do prejuízo e vem se destacando como uma das grandes vencedoras na corrida pela inteligência artificial.
Menos sexy à primeira vista do que nomes como Nvidia, Meta ou Microsoft, a empresa de 47 anos, que se consagrou com seus sistemas de gestão de base de dados, vem ganhando um novo apelo com o crescente interesse de desenvolvedores de AI pelas suas soluções de infraestrutura em nuvem.
As ações vêm batendo as máximas e sobem mais de 40% no acumulado do ano, contra 11% da Nasdaq – levando a companhia a figurar entre as 20 maiores dos Estados Unidos, com US$ 433 bilhões de valor de mercado.
Só nesta terça-feira (10), os papéis subiram mais de 12% após a divulgação do balanço do primeiro trimestre. A receita com infraestrutura de nuvem para IA teve um salto de 45% na comparação anual, para US$ 2,2 bilhões, superando a expectativa dos analistas.
A expectativa é de crescimento exponencial: atualmente, as receitas com IA representam 15% do faturamento com nuvem. Nas contas do Morgan Stanley, essa fatia deve passar para 50% já em 2027.
“Esperamos uma rotação [de investimentos] de empresas de semicondutores para infraestrutura de nuvem e os resultados da Oracle podem ser um gatilho”, escreveu a equipe do Itaú BBA em relatório.
A revitalização da Oracle, que já foi vista como dinossauro que ficou atrás na corrida tecnológica, tem duas teses centrais.
Primeiro, uma espécie de vantagem de retardatário. A Oracle de fato chegou tarde à corrida da nuvem – mas fez do limão uma limonada. Sua infraestrutura 162 data centers, construída nos últimos anos, é projetada para liderar com as necessidades específicas de treinamento de modelos de IA – e já foi amortizada ao longo dos últimos anos.
Com isso, a empresa se posicionou como uma opção competitiva e de portfólio vasto em um momento de demanda explosiva por infraestrutura de computação de alta performance.
Outra vantagem é que a Oracle é vista como um player ‘neutro’. A companhia não está desenvolvendo seus modelos próprios de IA, o que dá mais conforto para empresas como OpenAI, xAI, Mistral AI e Anthropic, que veem a empresa mais como uma parceira do que uma concorrente.
Isso lhe abriu portas para acordos estratégicos também com concorrentes na nuvem, como Microsoft, Google e Amazon, que permitem que os bancos de dados da Oracle rodem em suas clouds. Na contramão, a Microsoft usa os servidores da Oracle para rodar seu chatbot Bing com IA.
Outro fator crucial para o crescimento da Oracle é seu foco em oferecer uma solução clara e funcional para clientes que buscam infraestrutura para IA. Ao contrário de outros grandes players, como Amazon Web Services (AWS), que frequentemente tentam vender serviços adicionais ou chips proprietários, a Oracle se posiciona como uma empresa que oferece exatamente o que o cliente precisa, sem experimentalismos.
Reviravolta
A reviravolta da Oracle é em grande parte uma vitória de Larry Ellison, o cofundador de 80 anos, que ainda segue esbanjando energia como o diretor de tecnologia, chairman e a principal mente por trás da companhia.
Uma das principais personalidades do Vale do Silício, ele conseguiu fechar grandes acordos com líderes de peso em IA. Elon Musk e sua investida xAI e Jensen Huang, CEO da Nvidia, são parceiros-chave.
A Oracle hospeda a oferta de nuvem da Nvidia, com suas unidades de processamento gráfico (GPUs) de última geração. Essas GPUs são essenciais para o treinamento de modelos de IA e, dada sua escassez no mercado, deram a Oracle em uma posição privilegiada.
A grande questão é se o crescimento é sustentável. A construção de data centers para treinamento de IA é um negócio caro e, uma vez que os modelos estão treinados, eles podem ser executados em outras nuvens.
A xAI, por exemplo, está construindo seu próprio centro de dados em Memphis, nos EUA, o que sugere que a demanda pelos serviços da Oracle pode diminuir à medida que grandes empresas desenvolvem suas próprias infraestruturas.
Para não apostar em apenas um tipo de cliente, a Oracle tem flertado com as startups, que forma a base de clientes de software de banco de dados e que continuarão a gerar novos negócios.
O desafio, contudo, será competir com os recursos praticamente ilimitados de gigantes como Microsoft e Amazon.
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