Por que o dólar está subindo e quais são as expectativas do mercado?

O dólar encerrou o pregão desta terça-feira (29) em alta de 0,95%, cotado a R$ 5,762. Este é o maior patamar que a moeda atinge desde 30 de março de 2021, quando encerrou o dia na faixa de R$ 5,774.

Entre os fatores para este salto, analistas ouvidos pela CNN destacam incertezas com cenário fiscal, após o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmar que o aguardado pacote de corte de custos não tem previsão para ser divulgado.

A cena global também deu força para a divisa em meio a disputa das eleições nos Estados Unidos e os próximos passos dos juros pelo Federal Reserve (Fed).

A cotação esteve em alta ao longo de todo o dia, mas registrou um salto por volta das 16h20.

Por volta de 15h45, o ministro Fernando Haddad afirmou na portaria da Fazenda que não há um prazo para o envio de um aguardado conjunto de medidas de contenção fiscal. Segundo o chefe da equipe econômica, o andamento depende de aval do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

“Está avançando a conversa, estamos conversando com o [Ministério do] Planejamento [e Orçamento]. Estamos fazendo as contas para a gente fazer algo ajustadinho”, disse o ministro da Fazenda.

A ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, comentou no dia 22 de outubro que a área econômica do governo vai apresentar em breve um pacote de contenção de gastos ao presidente Lula. Ela é enfática ao dizer que “chegou a hora de levar a sério” a revisão de gastos públicos no Brasil.

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Nos dias seguintes aos comentários, o câmbio mostrou certo controle.

As falas de Haddad, porém, não caíram bem no gosto do mercado.

“Haddad declarando que não tem data para entregar o plano e sinalizando que o número sondado pelo mercado é fantasioso, estressa os investidores”, comenta Jefferson Laatus, estrategista-chefe do grupo Laatus.

Questionado pelos jornalistas sobre o tamanho do corte, Haddad disse que o número apresentado pela imprensa nunca havia sido comentado por ele, e que o anúncio oficial depende da decisão final do presidente.

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“Ele meio que jogou a responsabilidade para Lula. Ele mostra que existe a intenção de cortar os gastos, mas que quem vai decidir é o presidente. Não sabemos o que vem a partir disso, e aí gera estresse e o mercado acaba não entendendo tão bem”, pontua Daniel Teles, especialista da Valor Investimentos.

Cenário externo

Além da questão fiscal, há também fatores externos por trás dos problemas do real. O que mais tem atraído a atenção dos investidores é a eleição presidencial dos EUA, sobretudo com apostas apontando para a vitória de Donald Trump, que, pela visão do mercado, deve pressionar a inflação.

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Um grupo de economistas vencedores do prêmio Nobel aponta que as medidas econômicas planejadas pelo ex-presidente tendem a aumentar drasticamente a inflação no país.

Entre os pontos citados estão “orçamentos fiscalmente irresponsáveis”, além de políticas comerciais e de imigração.

“O mercado vem precificando uma vitória de Donald Trump, com base nos números de casas de aposta, o que é lido por Wall Street como potencialmente inflacionário, dadas as medidas protecionistas apoiadas pelo candidato, e consequentemente um vetor de valorização do dólar”, diz Paula Zogbi, gerente de Research e head de conteúdo da Nomad.

Enquanto o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) começa agora a aliviar os juros no país, após uma longa campanha para controlar a alta dos preços, uma vitória de Trump pode prejudicar esse movimento, forçando o Fed a manter os juros elevados por mais tempo.

“Há uma grande fuga de capital de países emergentes. A expectativa é de que Donald Trump vença, e se isso acontecer, os juros devem seguir pressionados por mais tempo no país”, afirma Laatus.

Expectativas

O boletim Focus, que reúne as expectativas do mercado para uma série de indicadores, mostrou o dólar encerrando o ano em R$ 5,45, conforme publicado nesta segunda, a terceira semana seguida de alta das previsões.

Para Paula Quartaroli, economista-chefe do Ouribank, passadas as eleições nos EUA e com novos cortes pelo Fed, a aversão ao risco deve baixar, favorecendo mercados emergentes.

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Porém, há uma percepção no mercado de que enquanto não houver um controle nos gastos domésticos, não haverá confiança no cenário econômico do país e o real seguirá desvalorizando ante o dólar.

“Notamos que de forma geral moedas de países emergentes também vêm sofrendo frente ao dólar ao longo do ano, o que sugere que o espaço para fortalecimento do real tende a ser limitado”, diz.

Tendo em vista um cenário no qual a política fiscal brasileira acabe moderando, a expectativa da Nomad é de que o dólar encerre o ano em torno de R$ 5,45.

Caso contrário, com maiores estresses, a casa aponta para um câmbio chegando a R$ 6.

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Este conteúdo foi originalmente publicado em Por que o dólar está subindo e quais são as expectativas do mercado? no site CNN Brasil.



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