Economia aquecida em 2024 não sustenta argumento de alta da Selic, diz ex-Credit Suisse

A poucos dias da decisão do Banco Central (BC) sobre a taxa básica de juros, grande parte dos analistas esperam uma nova alta, mas se dividem sobre qual será a magnitude e os argumentos que serão utilizados pela autarquia em seu comunicado para balizar o veredito.

Na avaliação do economista Nilson Teixeira, ex-Credit Suisse, a autoridade pode se basear em dois principais fatores para sustentar a decisão monetária: a expansão fiscal e a atividade econômica aquecida – duas dinâmicas que pressionam a inflação.

No entanto, para Teixeira, essa linha de raciocínio teria de considerar que a pressão sobre a economia continuaria crescendo no longo prazo. Contudo, não é isso que mostram as expectativas do mercado.

Em alta no Boletim Focus, as expectativas para o crescimento em 2024 já chegam em 2,68%. Para 2025, porém, caem para 1,9%. O mesmo se pode observar em relação à inflação, cuja a taxa deve encerrar o ano em 4,30%, segundo as previsões, e em 2025, a 3,92%;

Leia Mais

Mercado vê déficit primário menor em 2024, mas maior no próximo ano, mostra Prisma

Economia desacelera em julho com 1ª queda em quatro meses, mostra prévia do BC

BC vai intensificar medidas de portabilidade de crédito em 2025, diz diretor

“Vão dizer que a atividade está forte, mas o que acontece é que os números do 2º trimestre, que vieram fortes, não devem impactar na inflação. É preciso observar se as previsões de crescimento vão estar mais fortes. E não estão. Todos os analistas estão dizendo que haverá desaceleração da atividade e que os estímulos fiscais não estarão mais presentes”, explica.

Com relação ao mercado de trabalho, o economista também vê uma redução do ritmo de contratações e do incremento dos salários.

Leia também:  Saiba como foram os debates da Band com candidatos a prefeito no 2º turno

Dessa forma, uma desaceleração como está sendo prevista pelo mercado a partir do segundo semestre poderia promover uma redução das pressões inflacionárias.

Enquanto no segundo trimestre a economia apresentou um bom desempenho ao avançar 1,4%, os dados preliminares do início do segundo semestre já apontam uma desaceleração. Na sexta-feira (13), o IBC-Br, indicador considerado como uma “prévia do PIB”, mostrou uma retração de 0,4% da atividade em julho, a primeira após quatro meses.

Com relação à política fiscal, Teixeira argumenta que as previsões para o déficit primário em 2025 e 2026 são menores do que o esperado para este ano. Ou seja, a dinâmica das contas públicas também não sugere, no presente, maior pressão inflacionária.

Leia também:  Juros podem cair nos EUA e subir no Brasil: o que acontece com o dólar?

O ex-Credit Suisse entende que a calibração da taxa de juros com base no hiato do produto se tornou mais desafiadora, tendo em vista o aumento das incertezas relacionadas ao crescimento potencial e às razões dos dados subestimados da expansão da economia. Nesse sentido, Teixeira defende a necessidade de o Banco Central observar outros determinantes da inflação para construir um cenário mais seguro sobre os preços.

Outro fator citado que pode contribuir para a redução da inflação é o movimento contrário dos bancos centrais em países desenvolvidos de reduzir os juros.

Essa semana, o Banco Central Europeu anunciou um novo recuo das taxas em meio à desaceleração da inflação e um crescimento fraco. Além disso, uma queda dos juros nos Estados Unidos também é dada como certa para semana que vem, quando o Federal Reserve (Fed, na sigla em inglês) se reunirá.

Leia também:  Campos de golfe – especialmente o de Trump – são problema antigo para o Serviço Secreto

“Se você mantém inalterados os juros e todos os outros estão reduzindo as taxas porque a inflação está em declínio, é natural esperar que isso também contribua para a inflação no Brasil recuar”, diz.

Apesar de elencar esses argumentos e considerá-los frágeis para explicar uma alta dos juros, Teixeira não enxerga como equivocado um eventual ciclo de ajuste da Selic, principalmente se o objetivo do BC for alcançar de forma mais rápida a meta de inflação – atualmente fixada em 3%.

Este conteúdo foi originalmente publicado em Economia aquecida em 2024 não sustenta argumento de alta da Selic, diz ex-Credit Suisse no site CNN Brasil.



Publicado

em

Tags:

Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *